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segunda-feira, 28 abril 2025 15:50

Dois Anos de Conflito no Sudão: Uma Crise Humanitária Imensurável

 

No dia 15 de abril de 2023, o Sudão foi marcado pelo início de um conflito devastador que, até hoje, continua a afetar profundamente a vida de milhões de pessoas. Passados dois anos desde o início da guerra, o impacto sobre a população é incalculável. Mais de 12 milhões de pessoas foram forçadas a abandonar as suas casas e 3 milhões fugiram para outros países, colocando o Sudão como o país que alberga a maior população de deslocados internos no mundo.

Por trás destes números, existe uma realidade de perda, dor e medo, mas também de uma resiliência inimaginável.

Someya, uma artista de henna em Darfur Ocidental, perdeu o pai num ataque a uma mesquita. Depois desta tragédia, ela cruzou a fronteira para o Chade a pé, com os seus três filhos pequenos, estando grávida na altura. “A vida no campo de refugiados é difícil, mas não temos para onde voltar”, afirma, enquanto cuida do seu bebé em Adré, no Chade, onde trabalha lavando roupa para sustentar a sua família.

 

O Colapso da Saúde e a Luta pela Sobrevivência

Desde o início do conflito, milhares de civis foram mortos ou feridos e o acesso humanitário continua gravemente comprometido, apesar dos compromissos estabelecidos na Declaração de Jeddah, em maio de 2023, para proteger os civis e garantir o cumprimento do Direito Internacional Humanitário (DIH).

A presidente do CICV, Mirjana Spoljaric, que visitou o Sudão em novembro de 2024, alertou: “A crise humanitária no Sudão resulta, em primeiro lugar, do desrespeito pelas leis da guerra. As consequências deste conflito podem durar décadas, se não forem tomadas medidas urgentes.”

Embora, em algumas situações, o respeito pelo DIH tenha permitido evacuações que salvaram vidas, como a remoção segura de 300 órfãos e 70 cuidadores em 2023, as violações continuam a marcar este conflito brutal. Hospitais são atacados, civis são alvos diretos e a violência sexual é generalizada.

Estima-se que entre 70% a 80% das instalações de saúde nas áreas afetadas pelo conflito já não estão a funcionar, deixando dois em cada três pessoas sem acesso a cuidados médicos. Em resultado há mortes evitáveis, como mulheres a darem à luz sem assistência adequada, ferimentos traumáticos sem tratamento e m ortes causadas por condições crónicas não tratadas.

Em resposta a esta crise de saúde, o CICV tem intensificado o seu apoio em todo o Sudão e nos países vizinhos. Em 2024, o CICV disponibilizou materiais médicos a 88 hospitais, ajudando a tratar mais de 42.000 pacientes e mantendo a operação de seis hospitais através de apoio logístico.

 

Violência Sexual: Uma Epidemia Silenciosa

A violência sexual no Sudão é generalizada e muitas sobreviventes não têm acesso aos serviços médicos e apoio psicossocial essenciais. A violência sexual também é tanto causa como consequência do deslocamento forçado. Em 2024, mais de 100.000 pessoas fugiram para Renk, no Sudão do Sul, onde os poucos serviços disponíveis enfrentaram grande procura para lidar com os casos de violência sexual.

Mulheres sobreviventes frequentemente evitam procurar ajuda médica devido ao estigma ou medo de represálias.

Zainab Abdulkhaliq Zahir, chefe das operações de violência sexual no CICV, explica: "Muitas mulheres que ficaram grávidas hesitaram em procurar ajuda médica rapidamente. As suas famílias muitas vezes tinham dificuldades em lidar com o que aconteceu."

 

A Infraestrutura Essencial Sob Ataque

Hospitais, estações de água, redes de energia e linhas de comunicação foram repetidamente atacados, dificultando ainda mais a sobrevivência diária. Isto resultou em surtos de cólera e outras doenças transmitidas pela água, devido ao uso de fontes de água inseguras. O CICV ajudou a melhorar o acesso à água potável para 2 milhões de pessoas em 2024, mas os ataques continuam, e as necessidades são imensas.

 

Famílias separadas

Em 2024, o CICV recebeu quase 7.700 solicitações de procura por pessoas desaparecidas, um aumento de 66% em relação ao ano anterior. Esses pedidos representam apenas uma fração das famílias desesperadas para encontrar os seus entes queridos.

A crise não afeta apenas o Sudão, mas também os seus vizinhos. Em Adré, Chade, uma cidade de 12.000 habitantes, 150.000 refugiados chegaram, fugindo da violência. Em Boro Medina, Sudão do Sul, milhares de pessoas estabeleceram-se numa cidade que antes tinha apenas 5.000 habitantes, muitas delas em péssimas condições de saúde e traumatizadas pelo que viveram.

 

O Papel dos Humanitários nas Linhas de Frente

Apesar dos riscos, a Sociedade do Crescente Vermelho do Sudão (SRCS), com mais de 9.000 voluntários, continua a garantir ajuda vital em todo o país, mesmo nas condições mais perigosas. Desde o início do conflito, tanto o CICV quanto a SRCS perderam membros das suas equipas em serviço.

Em 2024, os esforços da SRCS e do CICV incluíram a distribuição de alimentos para mais de 230.000 pessoas, fornecimento de itens de alívio para quase 100.000 pessoas e assistência financeira para quase 380.000 pessoas.

O CICV reitera o seu apelo urgente a todas as partes envolvidas no conflito:

  • Respeitar o direito internacional humanitário.
  • Proteger os civis, a infraestrutura e os trabalhadores humanitários.
  • Permitir o acesso seguro e contínuo à ajuda humanitária.
  • Preservar um espaço humanitário onde organizações neutras possam operar livremente, focadas exclusivamente em ajudar quem mais precisa.

 

 

Conheça, na íntegra, o trabalho feito pelo CICV no Sudão, aqui. 

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